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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Modinha

A nova onda é ser revolucionário, lutar por causas para além dos muros de casa. E todos batem no peito, reafirmam suas causas. Mas pelo que você luta? Quais são seus ideais? Até onde vai o seu espírito libertário?

A revolução termina quando você levanta a bunda da cadeira e desliga o wi-fi. Termina e começa com o levantar.

Suas posições são firmes, leu alguns livros de história é “engajado” político, discute sociologia, filosofia no buteco, ou de buteco, vai saber.

Os propósitos do outro? Ah! Sempre desmedidos, irracionais. Sua máxima maior: “Não somos obrigados!” E eu concordo, não somos obrigados a ter passos guiados, vontades direcionadas, a seguir caminhos outros que não os que traçamos. Não somos obrigados a nos manter no sistema.

Mas você não se mantém no sistema. Fizeram com que o engolisse, sem um gole d´água para ajudar a descer. E você engoliu, sem cara feia, tem engolido tudo que lhe vomitam por ai, um ou dois copos de cerveja as vezes ajudam. Não é mesmo?

Quanta ironia, falo de revolucionários. Não vejo rupturas, sequer vejo frestas, o discurso polido, a (des)orientação política, valem mais que a borra dos meus cafés, pois não paga a média simples do peão de obra, do operário da construção civil se bem quiserem, o cafezinho da tarde.

Sei de suas insatisfação, acho mesmo que decorei alguns dizeres. “Não somos obrigados!”. E ai? Depois da postagem impactante, da nota de jornal, da feitura de cartazes, dos gritos de ordem, das fotos no instagram. E ai? Cadê a revolução para além do discurso polido e das postagem em redes sociais?

As revoluções começam no café da manhã quando já se cansou da média simples, ela lhe dá asco e um belo dia conclui não ser obrigado a esse café, que merece mais e passa a tomar chá.

Parece mesmo engraçado, mas o chá trouxe mudanças no paladar, você agora sente outros gostos.

O moço do chá companheiro é um revolucionário. E você? E eu? Somos o que para além dos discursos?

E ai? Qual a mudança? O sistema é uma merda e você tem se atolado até o pescoço. Até quando? Sabemos que não é obrigado.

E ai? Até quando?


Aline Félix 
25/10/2013


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Catavento

Ela desliza entre hélices
Num giro suave de quem não sabe onde ir (?)

Ela foi se enveredando
Entre becos e vielas estreitas

De olhos fechados
Escolheu seguir

De olhos fechados
Soprou para leste

Dispensou os sentidos
Sem caminhos traçados ou fronteiras definidas

Bebeu do meu copo
Provou outros gostos
Mediu outros corpos

Ela desliza entre hélices
Leve, opulenta

Deixa marcas na areia

Ela também se desfaz...







domingo, 6 de outubro de 2013

Inacabado

Estagnada
As ideias vão se perdendo
Apagam-se

Faço de outrora
Ontem e hoje

E se fossem só lembranças?
O meu corpo ainda pulsa
Caminho em desalinho

Mudei de assunto
Apaguei versos ainda não escritos
Tenho rascunhado outros textos

Mas as ideias
O pesar
Todos os desejos

Não cabem nas gavetas
Nos armários da cozinha
Nas salas, nos quartos, nos sonetos mal escritos

Não cabem em mim

Assim, distraído
O corpo reescreve a partitura
Grita, reinventa

Torna latente o verso inacabado

E tudo reverbera em movimento

Tudo que não tevê fim...