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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Você...


Foge as fotografias
Revelo-te a cada amanhacer em minha retina
É preto no branco
Sem ajustes de cor, forma, sem teogonia

Afrodite envergonharia-se
É mesmo uma explosão de cor, de vida...

Foge aos padrões
Foge a regra

Você é mais que o verbo
São as minhas liras
É música para os ouvidos
São todos os versos de Vinicius

É a aurora dos meus dias
Findos, apocalípticos...

Da Vince não faria melhor
É forma, movimento...

É pleonasmo dizer-te belo
Eu?! Amanheço pleonástico
Amanheço escravo
Subserviente
Completo

*Pintura: Gustav Klimt, The Kiss (1907-1908)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Dos gostos

Acordei em estado agridoce
Mei  sal, mei açucar...
Meio termo
Equilibrio destemperado

Os sábados de céu anil
Almoços balanceados
Tardes cadenciadas

Meus sóis tem entardecido cadenciadamente
Brando, liquefeito...

Este passar, este estado de satisfação comedida
Esta constância
Tem dissipado prazeres
Deixado-me com fome

Dos gostos
Quero arder a garganta
Fritar lembranças, pesares...

Dos gostos
Quero bem mais que sentir.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Guerra


Olhos postos
Coluna ereta

A mente?
Segue aberta

Passível de paz
Passível de guerra

Confusão mental

Travo batalhas homéricas
Eu? Engessada
Eu? Pulsão de vontades

Descortino casebres, cortiços interiores...
Vou revolvendo os destroços
Desmistificando certezas

Minha guerra não tem prazo
Não comporta restrições
Vivo em estado de sítio

Eu? Libertino
Eu? Paralelo

Somos dois e um só

Explodindo preceitos
Reconstruindo conceitos
Flores e fogos

Sigo assim
Recompondo e desfazendo-me



sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O corpo


Para contar
Dedilhar histórias
Decompor o tempo
Todas as farpas

Cicatrizes ornamentam o dorso declinado
Decomponho o tempo

Amante infiel

Mãos calejadas
Percorrem o corpo inerte

O corpo
Sem pulso, sem verbo



O tato
Sentido estéril
Outrora, um corpo febril
Pulsante, desejoso

Sem demais histórias
Sem verso, descompondo
Sem cheiro, sem gosto, inerte

O corpo
Peça viva, pasmada

São só tenazes
Indo e vindo
Dominando a peça, a presa

É bicho abatido
É carne barata
Mais um corpo
Sem gosto, sem cheiro, sem verbo.

02/10/2011
Foto:  http://poetrysfeelings.wordpress.com/ 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O Homem das Letras


"Três Homens de Terno", Geraldo Roberto da Silva

O Homem das Letras
Quiçá parava para uma média
De poucos sorrisos
O diziam sisudo
Pragmático

Ele é mesmo o ideal positivista
Seguidor das normas
Um homem reto
Bem quisto
Exímio orador
Os sofistas o envejariam

O Homem das Letras
Das frases bem colocadas
Versava sobre tudo e qualquer coisa

Afiado em política, economia, literatura
O homem das Letras caminhava por diversas temáticas
Sem vícios, delírios ou utopias

Educado para ser modelo
Modelo de pai, modelo de homem, modelo profissional

O Homem das letras foi moldado com maestria

Depois dos trinta anos
Convicto de seus atributos
Respirava um ar rarefeito
Reles mortais jamais inspirariam tal ar

Já havia deixado de caminhar
Ele planava
Seus pés já não tocavam o chão a tempos
E da terra que pisava nem poeira mais carregava

O Homem das Letras nunca foi homem
Carregava consigo a sina de ser mito

Saudades


Se tenho saudades?
Ah, não me fala dessa ingrata
Tenho andado como ela em meu encalço

As vezes me vem branda, leve...
Noutras me arrebata
Leva contigo meus sentidos
Deixa desejos

As vezes patética

Sente a ausência dos cheiros
Dos gostos
Dos tropeços

Essa tal de saudade
Já não sabe se quer
Se deixa

Saudade é a fluidez das lembranças
É fuga da alma

Alcoviteira por ocasião
Ela sempre se achega
Sem convites

E desde sempre
Divide os dias entre a ausência completa
E o sabor das lembranças.



23/11/2011

O meu amor (Poema vencedor no IV Prêmio Canon de Poesia 2011)

O meu amor
Ronda as mesas
Sorri para o músico
Sela guardanapos
Canta ao pé do ouvido
O meu amor
Pondera minhas divagações
Sobe a ladeira sem ritmo
Reclama dos sinos que já não ouve
Das festas que não vai
O meu amor
É companhia de almoço e jantar
Sorri maliciosamente e pega minha mão
Leva para cama meus sentimentos
O meu amor
Nunca diz não
O meu amor
Cansou da boemia
Dos bares, da multidão afoita.
O meu amor é desses de algibeira
Amor de campo e braço forte
O meu amor ainda sela guardanapos com o beijo

16/02/08

Recomeço

Novas propostas de vida… Um recomeço inusitado, reorganização surpresa da minha vida. É… As coisas não se encaminharam da maneira como eu gostaria, fluidez cotidiana… Percebo que nunca tive o controle das minhas emoções, do meu eu! Inusitado e libertino em alguns momentos.
As convicções que tinha acerca de um pretenso status numa cidade universitária, a certeza de um lar, de amigos que nunca tive de verdade, do desgaste que foi e esta sendo tudo isso…
Perder não é a palavra que classifica os últimos acontecimentos de minha vida, acho que somei em conhecimento, aprendi um pouco mais sobre as relações humanas, o quão o homem pode ser impositivo na busca de um propósito.
As relações humanas nos surpreendem a cada dia, percepções adversas de um ideal utópico e irreal. Ideal?! O melhor que podem fazer? Padronização de trejeitos, premissas de vida, busca de algo comum à massa. Eu realmente não estou preparada para essa padronização, consentir normas pré-estabelecidas, ater-me a essa universalização do ser.
Acometida por uma mudança de grandes proporções. Ainda não tenho um rumo certo, não reconstruí nenhuma base. Tô meio perdida nesse meio… Dói-me olhar para trás. Estou cansada disso tudo, de ter lutado até mesmo contra mim em busca de um pretenso ideal, de um enquadramento social e ideológico não compartilhado pela essência de minha alma…
Se me arrependo de algo? Não… Sei que ainda tem muito a se resolver, pendências relacionais… Infelizmente não consigo apagar o que sinto, uma mescla de decepção e alivio. Precisei dos olhos de outrem para descobrir que minha realidade estava vazia. De certa forma eu pretendia continuar… Podem chamar de ignorância, mas eu bem acreditava que tudo poderia se enquadrar. Acreditava que poderia inserir-me no sistema sem perder em essência. Resolução irreal, que agora vejo o quão enganada estava.
Eu ainda acreditava. Mais do que ninguém nessa inserção. Conheço todos os meus vícios, minhas pendências pessoais, o quão meu comportamento pode ser impulsivo. Mas nada justifica a subversão da verdade, a omissão, a impropriedade com que trataram da vida de outrem.
Postura! Agir com mais postura, hombridade. Defender propósitos, ideais, convicções acerca do que acreditam. Sim…Isso é louvável. Até certo ponto. A defesa de um ideal nunca deve se conjugar com a impropriedade de uma ação impositiva. Relação essa que corrompe e vicia toda e qualquer atitude humana.

05/04/2007