Pulsão, movimento, primordiais para qualquer esboço que você faça, essencial a arte final, a vida!
Número de acessos
quinta-feira, 1 de junho de 2017
Estribeiras
Segue sem tino
Destino é destino
Torce, retorce, endireita
Desafrouxa a camisa
Pés no chão
O vôo hoje e rasante
Vamos passar rente
Tirar o fino
Destino é destino
O amanhã?
É para ser escrito a nanquim
Com tinta fresca e cabeça aberta
Destino e destino
Pés no chão
Manhãs orvalhadas
Sigo desanuviando
Entardecendo todos os dias
Passo a passo
Sem rumo acertado
Sem marcas, formas ou ajustes
A certeza do caminho é caminhada.
terça-feira, 31 de janeiro de 2017
Fluidez
Ela flui sanguínea
Corredeira ininterrupta
A atravessar sentimentos
Derrama-se
Ela se liquefaz
Transmuta
Flui constante
Faz a pele enrubescer
Pupilas dilatarem
Os sentidos ?
Se perdem
Margeiam as fronteiras da sensatez
Sempre a fluir
Como lava vulcânica
Abrasiva incandesce
Faz do verso
Seu último suspiro
Da palavra
Confissão
A reger com maestria
Tudo que pulsa sem forma definida
Reverbera em mim poesia...
A.F.
31/01/2017
segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
Estações
É fim de tarde
Quando o céu é multicor
Os tons se misturam
Intercalam-se
Alaranjam o horizonte
Abrilhanta a pele
O dorso desenhado do passante distraído
Ele é parte do quadro
Contextualiza -se
Faz cena, em cena, incena
Assisto os fins de tarde
Aguardo o porvir
Hora ou outra os tons se arrefessem
Tom sobre tom
O céu multicor anuncia aquela que te arrebata
Entardece em mim
Pouco a pouco
Cadenciando o tempo
O passar das horas
Invadindo a cena
Atravessando o horizonte multicor
Entre uma estação e outra
Seja inverno ou verão
Ela sempre se achega
[Em] luarando o entardecer
Quando o céu é multicor
Os tons se misturam
Intercalam-se
Alaranjam o horizonte
Abrilhanta a pele
O dorso desenhado do passante distraído
Ele é parte do quadro
Contextualiza -se
Faz cena, em cena, incena
Assisto os fins de tarde
Aguardo o porvir
Hora ou outra os tons se arrefessem
Tom sobre tom
O céu multicor anuncia aquela que te arrebata
Entardece em mim
Pouco a pouco
Cadenciando o tempo
O passar das horas
Invadindo a cena
Atravessando o horizonte multicor
Entre uma estação e outra
Seja inverno ou verão
Ela sempre se achega
[Em] luarando o entardecer
Foto: Isabela Correia
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
Palavras
Palavra
Momento
Fresta de luz a incandescer
Caminhos
Novas vertentes
Corredeira de rio
Nascente de chuva
Temporária
Límpida
Ela segue fluida
Tangencia, envereda-se
Faz florescer
Palavra
Reverbera no ar
Pulsa incompreendida
Segue a se enveredar
Como água de rio
Corredeira de chuva
Faz seu caminho
Entre frestas ou abismos
Ela sempre ressoa
Aline Félix, 07/ 12/ 2016
sexta-feira, 16 de setembro de 2016
TEMPO
Hoje o tempo passa
Os horizontes?!
Distorcidos
O tempo passa constante, obsoleto
Num aparente retardo
Hoje não quero produzir
Vou passar com o tempo
Companhia sutil
Ele não é de grandes movimentos
Mas se integra
Silencioso se integra
Deixa espaço para auto-acuidade
Perceber a si mesmo
Num movimento sutil
Ele passa
E me leva contigo
Entre idas e vindas
Carrega meus passos
Sussurra, verbaliza, atrolepa...
Tempo, algoz, padrinho, amante fulgaz
Nada é tão certo ou errado
É o que é, e segue passando
A nós, o livre arbítrio.
terça-feira, 21 de abril de 2015
O Dizer
Óbvio
Obviedades do dizer
Cautelosa
Não diz
Certeira
Erra
A palavra não dita
É verbo que não reverbera
Entre a garganta e a boca
Estagnada
Consentindo idéias
Pesares
Certezas [?!]
A palavra
Paira no ar
Sufoca na caneta tinteiro
Ela se revolve
Entoa odes do não dizer
Obviedades
São palavras maduras
Prontas para serem ditas
A palavra é finita
Os sentidos diversos
Óbvio são nossas perspectivas [?]
Morre-se por obviedades
Por certezas inabaláveis
Pela palavra não dita
Morre-se de tédio
De pesar
Pela certeza que não temos
Pela palavra silenciada
Mata-se pela palavra
Silenciada por óbvio
Morte do dito pelo “não-dito”.
domingo, 17 de agosto de 2014
Beatriz quer casar mais eu...
Beatriz é mulher de fibra, daquelas que garra o touro a unha e não solta, nem se o touro resolve dar
de cordeiro.
Desde menino tenho o sonho de casar mais ela.
Na infância, brincávamos soltos campo afora, subia em árvore, atravessava rio, caia, lascava o
dedão do pé e ralava os joelhos dia sim e o outro quem sabe.
Para Beatriz nunca houve tarefa impossível.
Se era para subir na árvore mais alta. Aff...Essa minina batia os pés, cuspia nas mãos e se
equilibrava tronco acima.
Os meninos da rua, tinham inveja dela, logo quando se mudou para sítio vizinho, era só ela de
minina e um mundo de outros meninos homens.
Beatriz não poderia ser só uma menininha, ela nunca seria aceita, ela teve de ser uma menina
mulher. E como mulher menina aprendeu rápido que seria posta a prova a todo tempo.
Ela provou que subir em árvores não é coisa de menino, mas coisa de quem quer pousar no alto
como os pássaros.
Que futebol não é jogo só de homens, que a menina também pode brincar de correr, se descabelar e
sujar o rosto de poeira. Ensinou que brincar de comidinha não era brincadeira de minininha e que
meninos não são menos meninos por que aprenderam a acender o fogãozinho de lenha que
montávamos no fundo do quintal da avó.
Numa dessas tardes, jogávamos bolinha de gude e conversa fora. Lá longe, atrás da cerca do Zé
Maria, veio uma pessoinha de boina azul e coturnos pretos, até achei que era filho de algum dos
peões novos que chegavam para trabalho de temporada. Não era nada, era Beatriz, ela ganhou de
um tio da cidade o coturno preto e a boina azul.
Chegou cheia de si, mostrando os presentes novos para os amigos. Bentinho, filho do seu João da
mercearia, já olhou torto para Beatriz, disse que coturno é coisa de menino e menina de família
nunca que poderia ficar correndo solta, ainda mais vestida assim.
Beatriz ofereceu os coturnos para Bentinho, ele calçou, correu, deu uns pulos e disse alto: “ Viu que
coturno é sapato de homem.” Beatriz, como não é boba nem nada, pediu de volta os sapatos, calçou,
correu, pulou e afirmou: “ Sapatos são sapatos, você que resolveu que coturnos são de homens, pois
esses são meus...”
Depois disso, deu de bandas e foi jogar bolinha.
Fiquei com essa frase na cabeça: “ você que resolveu que coturnos são de homens, esses são
meus...”
Pois não é que Beatriz estava certa, eram dela. E coturno pode calçar minino e minina.
Beatriz, como todos os outros, corria livre, apesar da censura dos pais e da tacanhice repassada de
pai para filho, mas logo, logo, ela se fazia por si mesma, sem precisar provar mais nada.
Fomos crescendo e a braveza daquela mulher fazia-me suspirar campo afora. Umas vezes suspirava
de cansado mesmo, por que não era fácil acompanhá-la, outras era só encantamento.
Beatriz na sua meninice ensinou tanta coisa. Coisa que não se aprende nos bancos da escola, coisa
que meu pai nunca tinha pensado, e se pensasse guardava para ele.
Aprendi que não existe brincadeiras de minina e minino, que eu posso fazer todas as coisas que
falam que é só coisa de minina. Azul é só mais uma cor do arco iris, e que mininas vestem azul.
Rosa , não tem no arco iris, mas posso colorir de rosa tudo que quiser, inclusive tenho uma camiseta
rosa.
Beatriz, mostrou que mininas empinam pipas, jogam bola, sobem em árvores, brincam de casinha e
nem sempre querem ser a princesa.
Noutro dia, chutei uma pedra. Doeu, doeu, corri para trás do muro para chorar, não queria que
ninguém visse. Homem não chora, dizia meu pai. Não entendia muito bem, por que vez ou outra
escutava uns barulho estranho do quarto, um gemido, bem acho que ele chorava, mas chorar não é
coisa de homem.
Beatriz correu para ver por que eu demorava a voltar. Tava eu lá, agachado no chão com a cabeça
entre as pernas.
- Achei o você Jonas, já pode sair e eu lá com a cabeça enfiada entre as pernas, parecia que meu
olho tava furado, por que descia era água.
Beatriz viu meu dedo ferido, agachou do meu lado, me deu um abraço e disse para não ter
vergonha, todo mundo chora e bem deve ter doido essa topada. Eu ri, apesar da dor. Relutei em
erguer a cabeça, mas ela fez isso por mim. Limpou meu rosto, soprou meu dedo, deu as mãos para
que me reergue-se e os ombros para eu apoiar.
-Deixa de bestagem Jonas, você já me viu chorando leras de vezes.
Jonas: Mas eu sou homem, homem não chora
Beatriz: Chora sim, você tá chorando e continua a ser menino homem. Não tem diferença, homem
chora e sente dor igual, dor no corpo e dor na alma.
Dor na alma, isso ficou gravado. Acho que minha alma nunca doeu. No dia fiquei meio sem
entender, mas hoje sei bem quando minha alma dói.
Eu cresci, virei homem de fato. Chorei tantas outras vezes e continuei homem. É, Beatriz tava certa.
Quando fizemos 12 anos, os pais dela mudaram do campo para cidade. Eu fiquei, foi quando
apreendi como é sentir dor na alma. E doía tanto, tanto... Que eu preferia perder a tampa do dedo,
de todos os dedos mil vezes a sentir essa tal de dor na alma.
Eu tentava pensar em outras coisas, correr bem rápido campo a fora, cansar muito o corpo, para
esquecer da dor. E nem assim...
Eu tinha saudades. Mãe achou que eu tinha era verme uma época, fiquei amuado, vivia pelos
cantos, não queria brincar com os outros mininos e nem nada.
Beatriz sempre vinha nas férias, e eu sempre esperava, mais que natal e aniversário. Era o
acontecimento do ano, do meu ano.
Eu virei rapaz e ela moça, apesar da distância, do tempo que ficávamos sem nos ver. Sempre
tínhamos papo para varar a noite. E fomos crescendo. Ela já moça com contornos de mulher, uma
belezura que só...
Ai Deus, antes bastava estar perto, contar as novidades, mas eu queria mais... E a queria tanto!
Mas Beatriz, menina mulher arretada, dona de si, sempre desbravando novos horizontes,
atravessava oceanos.
Beatriz me ensinou desde criança que mulher é posta a prova dia a dia, toda a hora.
E eu tinha um pouco de medo, não sabia lidar com o mundo de mulher que ela havia se tornado. As
vezes achava não ser suficiente para ela, meu pai sempre disse a vida toda que mulher anda no
cabresto. Não entendia e também não concordava com ele.
Também , mesmo que quisesse e concordasse, Beatriz não é mulher de cabresto.
Já com certa idade, fui para cidade concluir meus estudos, como pai e mãe diziam, fui virar
“douto”.
Beatriz ajudou bastante, apresentou-me o mundo, suas mazelas, aventuras e muitas desventuras.
Íamos juntos para faculdade, e cada vez mais nossos laços se estreitavam. Entre cafés da manhã e
jantares, levava para cama todo o sentimento do mundo, dormia abraçado com meu bem querer,
dormia.
Beatriz, causava-me o mesmo encantamento de quando eramos crianças. Ela desbravava horizontes,
descortinou o meu verso, ensinou que somos livres por natureza e que muita gente quer colocar o
outro numa forma, ditando a forma de vestir, de falar, de portar-se.
Mal sabem que felicidade maior e ser livre, livre para pensar, falar e fazer tudo que der na veneta.
Ah, minha alegria é saber que Beatriz é pássaro que voa, mais a felicidade do mundo eu senti
quando descobri que Beatriz poderia voar para o mundo todo, mas escolheu posar do meu lado.
Texto finalizado em 31/07/2014
Aline Félix
de cordeiro.
Desde menino tenho o sonho de casar mais ela.
Na infância, brincávamos soltos campo afora, subia em árvore, atravessava rio, caia, lascava o
dedão do pé e ralava os joelhos dia sim e o outro quem sabe.
Para Beatriz nunca houve tarefa impossível.
Se era para subir na árvore mais alta. Aff...Essa minina batia os pés, cuspia nas mãos e se
equilibrava tronco acima.
Os meninos da rua, tinham inveja dela, logo quando se mudou para sítio vizinho, era só ela de
minina e um mundo de outros meninos homens.
Beatriz não poderia ser só uma menininha, ela nunca seria aceita, ela teve de ser uma menina
mulher. E como mulher menina aprendeu rápido que seria posta a prova a todo tempo.
Ela provou que subir em árvores não é coisa de menino, mas coisa de quem quer pousar no alto
como os pássaros.
Que futebol não é jogo só de homens, que a menina também pode brincar de correr, se descabelar e
sujar o rosto de poeira. Ensinou que brincar de comidinha não era brincadeira de minininha e que
meninos não são menos meninos por que aprenderam a acender o fogãozinho de lenha que
montávamos no fundo do quintal da avó.
Numa dessas tardes, jogávamos bolinha de gude e conversa fora. Lá longe, atrás da cerca do Zé
Maria, veio uma pessoinha de boina azul e coturnos pretos, até achei que era filho de algum dos
peões novos que chegavam para trabalho de temporada. Não era nada, era Beatriz, ela ganhou de
um tio da cidade o coturno preto e a boina azul.
Chegou cheia de si, mostrando os presentes novos para os amigos. Bentinho, filho do seu João da
mercearia, já olhou torto para Beatriz, disse que coturno é coisa de menino e menina de família
nunca que poderia ficar correndo solta, ainda mais vestida assim.
Beatriz ofereceu os coturnos para Bentinho, ele calçou, correu, deu uns pulos e disse alto: “ Viu que
coturno é sapato de homem.” Beatriz, como não é boba nem nada, pediu de volta os sapatos, calçou,
correu, pulou e afirmou: “ Sapatos são sapatos, você que resolveu que coturnos são de homens, pois
esses são meus...”
Depois disso, deu de bandas e foi jogar bolinha.
Fiquei com essa frase na cabeça: “ você que resolveu que coturnos são de homens, esses são
meus...”
Pois não é que Beatriz estava certa, eram dela. E coturno pode calçar minino e minina.
Beatriz, como todos os outros, corria livre, apesar da censura dos pais e da tacanhice repassada de
pai para filho, mas logo, logo, ela se fazia por si mesma, sem precisar provar mais nada.
Fomos crescendo e a braveza daquela mulher fazia-me suspirar campo afora. Umas vezes suspirava
de cansado mesmo, por que não era fácil acompanhá-la, outras era só encantamento.
Beatriz na sua meninice ensinou tanta coisa. Coisa que não se aprende nos bancos da escola, coisa
que meu pai nunca tinha pensado, e se pensasse guardava para ele.
Aprendi que não existe brincadeiras de minina e minino, que eu posso fazer todas as coisas que
falam que é só coisa de minina. Azul é só mais uma cor do arco iris, e que mininas vestem azul.
Rosa , não tem no arco iris, mas posso colorir de rosa tudo que quiser, inclusive tenho uma camiseta
rosa.
Beatriz, mostrou que mininas empinam pipas, jogam bola, sobem em árvores, brincam de casinha e
nem sempre querem ser a princesa.
Noutro dia, chutei uma pedra. Doeu, doeu, corri para trás do muro para chorar, não queria que
ninguém visse. Homem não chora, dizia meu pai. Não entendia muito bem, por que vez ou outra
escutava uns barulho estranho do quarto, um gemido, bem acho que ele chorava, mas chorar não é
coisa de homem.
Beatriz correu para ver por que eu demorava a voltar. Tava eu lá, agachado no chão com a cabeça
entre as pernas.
- Achei o você Jonas, já pode sair e eu lá com a cabeça enfiada entre as pernas, parecia que meu
olho tava furado, por que descia era água.
Beatriz viu meu dedo ferido, agachou do meu lado, me deu um abraço e disse para não ter
vergonha, todo mundo chora e bem deve ter doido essa topada. Eu ri, apesar da dor. Relutei em
erguer a cabeça, mas ela fez isso por mim. Limpou meu rosto, soprou meu dedo, deu as mãos para
que me reergue-se e os ombros para eu apoiar.
-Deixa de bestagem Jonas, você já me viu chorando leras de vezes.
Jonas: Mas eu sou homem, homem não chora
Beatriz: Chora sim, você tá chorando e continua a ser menino homem. Não tem diferença, homem
chora e sente dor igual, dor no corpo e dor na alma.
Dor na alma, isso ficou gravado. Acho que minha alma nunca doeu. No dia fiquei meio sem
entender, mas hoje sei bem quando minha alma dói.
Eu cresci, virei homem de fato. Chorei tantas outras vezes e continuei homem. É, Beatriz tava certa.
Quando fizemos 12 anos, os pais dela mudaram do campo para cidade. Eu fiquei, foi quando
apreendi como é sentir dor na alma. E doía tanto, tanto... Que eu preferia perder a tampa do dedo,
de todos os dedos mil vezes a sentir essa tal de dor na alma.
Eu tentava pensar em outras coisas, correr bem rápido campo a fora, cansar muito o corpo, para
esquecer da dor. E nem assim...
Eu tinha saudades. Mãe achou que eu tinha era verme uma época, fiquei amuado, vivia pelos
cantos, não queria brincar com os outros mininos e nem nada.
Beatriz sempre vinha nas férias, e eu sempre esperava, mais que natal e aniversário. Era o
acontecimento do ano, do meu ano.
Eu virei rapaz e ela moça, apesar da distância, do tempo que ficávamos sem nos ver. Sempre
tínhamos papo para varar a noite. E fomos crescendo. Ela já moça com contornos de mulher, uma
belezura que só...
Ai Deus, antes bastava estar perto, contar as novidades, mas eu queria mais... E a queria tanto!
Mas Beatriz, menina mulher arretada, dona de si, sempre desbravando novos horizontes,
atravessava oceanos.
Beatriz me ensinou desde criança que mulher é posta a prova dia a dia, toda a hora.
E eu tinha um pouco de medo, não sabia lidar com o mundo de mulher que ela havia se tornado. As
vezes achava não ser suficiente para ela, meu pai sempre disse a vida toda que mulher anda no
cabresto. Não entendia e também não concordava com ele.
Também , mesmo que quisesse e concordasse, Beatriz não é mulher de cabresto.
Já com certa idade, fui para cidade concluir meus estudos, como pai e mãe diziam, fui virar
“douto”.
Beatriz ajudou bastante, apresentou-me o mundo, suas mazelas, aventuras e muitas desventuras.
Íamos juntos para faculdade, e cada vez mais nossos laços se estreitavam. Entre cafés da manhã e
jantares, levava para cama todo o sentimento do mundo, dormia abraçado com meu bem querer,
dormia.
Beatriz, causava-me o mesmo encantamento de quando eramos crianças. Ela desbravava horizontes,
descortinou o meu verso, ensinou que somos livres por natureza e que muita gente quer colocar o
outro numa forma, ditando a forma de vestir, de falar, de portar-se.
Mal sabem que felicidade maior e ser livre, livre para pensar, falar e fazer tudo que der na veneta.
Ah, minha alegria é saber que Beatriz é pássaro que voa, mais a felicidade do mundo eu senti
quando descobri que Beatriz poderia voar para o mundo todo, mas escolheu posar do meu lado.
Texto finalizado em 31/07/2014
Aline Félix
quinta-feira, 5 de junho de 2014
PAZ
A minha paz
Trás o caos necessário
Desmonta fortes
A paz que preciso
Trás o caos em doses
homeopáticas
Leva consigo meu
desamor
Melhora meu riso
Da cor ao acaso
Faz quente os dias
nublados
Faz sol de varanda
Sombra do meio dia
Canta dissonante ao pé
do ouvido
Clareia meus versos
E se desfaz
Tal qual o poente
Dorme comigo
Amanheço pendente
Faltosa
É o caos necessário
A paz que preciso
Arranca versos soltos
Desalinha o horizonte
Quebra discursos feitos
Se mostra
Toma o caos em seus
braços
Acolhe a dor e o
delírio
Sem arroubos de prazer
A paz que preciso
Descortina o verso
Descortina o caos
Faz em mim poesia.
24/01/2013
terça-feira, 27 de maio de 2014
Linhas mal traçadas
Saia da forma
Jogue-se
Não!
Sente-se com modos
Não grite
Vc não pode rugir
Ressoe as palavras
Querem-na fluida
Fluida e demarcada
Rio em canal de cimento
Barragem de rejeitos
Você não precisa
anuir
Silencie
Aprenda a não intervir
Mulher não entende
Ouve isso toda uma vida
Ainda não entende
É difícil colocar-se
em seu lugar?!
Desde a tenra idade
Aprendeu que menina não
se expõe
Deve ser contida,
recada
Dar-se o respeito
Não pule, não grite,
comporte-se
Demarcaram seus passos
Furaram suas orelhas
Hoje já crescida
Querem-na mulher
Mulher para casar
Contam seus parceiros
Contam seu prazer
Cortam sua onda
Mulher
Desalinhe-se
O gênero não lhe
define
Sem formas ou patentes
Seja branca, seja negra
Ser mulher é
autoafirmar-se todos os dias.
quinta-feira, 24 de abril de 2014
Ser...
Ela se veste de
certezas
Maquiagem perfeita
Faz do passado bússola
Direção, diretriz
Mas seus delírios
Devaneios de fins de
semana
Estes são pontuais
Vira e mexe
Clareiam horizontes
Desequilibram a rotina
O verso sem rima
O poema sem vida
Ela se veste de
certezas
Opta pelo passado
Intenso, vivido,
passado
Tem escolhido rememorar
laços inexistentes
Reviver a dor
Maquiar o riso
Ela devia despir-se
Arrancar do peito a dor
Criar outros laços
Desfazer-se de outros
tantos
Quem sabe não escolhe
Viver toda a dúvida
Desfazer-se da dor
Ser nuvem passageira
Sol da manhã
Fazer-se poema
Alforriar-se de si.
quarta-feira, 12 de março de 2014
Ela
Assim
Efervescente
Ela pulsa
E tudo é tão pouco e
tanto
É vasta
Intensa
Tensiona ser livre
Romper com a dor
E ser só poesia
Ela recorta horizontes
Desenha em nuvens
E flui, sem direção
definida
E sente, e pulsa,
liquefaz-se
Tem dentro de si
Um vulcão em erupção
E hoje é sempre
E nada mais
E nunca mais
Ela é movimento
E vibra
Assim em descompasso
E hoje é sempre
Sempre o último dia
24/12/2013
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Tempo
O tempo parou
A anos atrás ele parou
Sem tictac´s
Divaga entre espaços
Entre frestas de
consciência
Ele parou
É só poeira
Poeira de tempo
Jogado, controverso
Debate-se em mim
Batuque pontual
Uma nota só
Ele precisa desacelerar
Tocar outros sons
Sentir outras músicas
(Des) cadenciar
Perder-se em ritmos
Noutros gostos, outros
sons...
Ele fica assim
De olhos parados
Tentou acompanhar
ritmos que não o seu
Desbravar terras de
outrem
Sem tic's ou tac's
Não quer ser nota
Não quer ser tempo
De olhos parados
Ele quer encontrar-se
consigo outra vez
03/02/2014
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