Hoje me olho no espelho e os traços
no meu rosto cada vez mais desenhados, se antes eram esboços de
minhas expressões mais corriqueiras, hoje elas acenam ao longe,
contam um pouco da minha história, dos amores as crises de ódio, da
dor a felicidade que vez ou outra estampam os sorrisos.
Carrego com orgulho, cada traçado no
rosto, marcas de toda uma vida. Não quero maquiar, fingir idade,
ludibriar o tempo com pós, bases, blushes, nada disso. As marcas no
meu rosto contam mais de mim do que eu mesma sei, conversam em
silêncio entre si. São como pontos de luz.
A tempos atrás, aparentemente mais
jovial, com o sorriso mais puro, o olhar festivo de quem pouco sabe
de si e tem sede de descoberta procurei desbravar outros mundos,
subir em outros muros que não os de casa.
Seguimos assim, em cima dos muros,
aqui, acolá, margeando a dor, vivenciei as primeiras paixões, fui
desenhando sem rascunho. Aceitei o esfumaçado das olheiras, as
dúvidas que sempre esboço com o erguer de sobrancelhas, a paralisia
facial diante da frustrações cotidianas ou mesmo da surpresa em
saber-se apaixonada.
Não faço diferente hoje, posso não
expressar em palavras, estear bandeiras, mas minha cara não nega, é
como se escrevessem a nanquim todos os nãos e sins que vou dizer, ou
mesma a dúvida.
Nego três vezes a ideia de
desprender-me das linhas do meu rosto, de uma identidade construída
dia a dia, de fingir dor, de trair meus sentidos com expressões
ensaiadas.
Somos todos uma chuva de emoções,
mas alguns de nos tem medo de molhar e escondem-se embaixo de
marquises, a contraluz.
Eu acredito continuar subindo em
muros, olhando através das janelas, pulando-as se preciso, vou
marcando a nanquim minhas alegrias, as frustrações cotidianas,
desenhando em definitivo outras tantas linhas de expressão.
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