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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Marcas

Hoje me olho no espelho e os traços no meu rosto cada vez mais desenhados, se antes eram esboços de minhas expressões mais corriqueiras, hoje elas acenam ao longe, contam um pouco da minha história, dos amores as crises de ódio, da dor a felicidade que vez ou outra estampam os sorrisos.

Carrego com orgulho, cada traçado no rosto, marcas de toda uma vida. Não quero maquiar, fingir idade, ludibriar o tempo com pós, bases, blushes, nada disso. As marcas no meu rosto contam mais de mim do que eu mesma sei, conversam em silêncio entre si. São como pontos de luz.

A tempos atrás, aparentemente mais jovial, com o sorriso mais puro, o olhar festivo de quem pouco sabe de si e tem sede de descoberta procurei desbravar outros mundos, subir em outros muros que não os de casa.

Seguimos assim, em cima dos muros, aqui, acolá, margeando a dor, vivenciei as primeiras paixões, fui desenhando sem rascunho. Aceitei o esfumaçado das olheiras, as dúvidas que sempre esboço com o erguer de sobrancelhas, a paralisia facial diante da frustrações cotidianas ou mesmo da surpresa em saber-se apaixonada.

Não faço diferente hoje, posso não expressar em palavras, estear bandeiras, mas minha cara não nega, é como se escrevessem a nanquim todos os nãos e sins que vou dizer, ou mesma a dúvida.

Nego três vezes a ideia de desprender-me das linhas do meu rosto, de uma identidade construída dia a dia, de fingir dor, de trair meus sentidos com expressões ensaiadas.

Somos todos uma chuva de emoções, mas alguns de nos tem medo de molhar e escondem-se embaixo de marquises, a contraluz.

Eu acredito continuar subindo em muros, olhando através das janelas, pulando-as se preciso, vou marcando a nanquim minhas alegrias, as frustrações cotidianas, desenhando em definitivo outras tantas linhas de expressão.




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