Número de acessos

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Tempo

O tempo parou
A anos atrás ele parou
Sem tictac´s
Divaga entre espaços
Entre frestas de consciência


Ele parou
É só poeira
Poeira de tempo

Jogado, controverso
Debate-se em mim

Batuque pontual
Uma nota só

Ele precisa desacelerar
Tocar outros sons
Sentir outras músicas

(Des) cadenciar
Perder-se em ritmos
Noutros gostos, outros sons...

Ele fica assim
De olhos parados

Tentou acompanhar ritmos que não o seu
Desbravar terras de outrem

Sem tic's ou tac's

Não quer ser nota
Não quer ser tempo

De olhos parados
Ele quer encontrar-se consigo outra vez

03/02/2014



domingo, 22 de dezembro de 2013

Pagú

Feliz
Feliz 

Lasciva 

Todos a querem

Seu corpo, seu verbo
A carne que lhe apraz

Ela te assusta, surpreende
Revira, entorta e não se conforma

Puta, vadia, perdida é o que dizem

Na frente de batalha
Ela trava guerras diárias
Luta por ser quem é
Luta para ser quem é

Rompe amarras
Quebra grilhões
Foge aos padrões

Querem aprisioná-la
Prendê-la num forte
Massificar-lhe as ideias
Vesti-la com pudor
Restringi-lhe as palavras, o passo, o verbo

Querem-na mulher
Mulher de respeito

Não pode gritar
Não pode fugir

Uma mulher de respeito
Sabe do seu lugar
Bate continência
Aceita sua condição

Ela não
Ela é livre
Alforria-se a todo momento
Bate de esquerda
Assume-se mulher
Mulher fora da forma
(Des)engessada
Recorta caminhos
Traça suas rotas

Desanuvia-se

É verbo sem forma definida
É movimento
É o que quiser ser

Ser mulher é alforriar-se todos os dias

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Corpos

Queria sim
Percorrer o corpo
Labirinto secreto
Ir por todos os caminhos
Perder-me
Entre curvas e ondulações

Eramos um
A revirar-se
Descompassando ritmos e cadências
Fluindo
Pulsando

Corpos em êxtase

Vibramos no mesmo tom
Num gozo intermitente
Catalisador de sensações

Não sei se quente ou frio
Mas vivo, pungente
Chocante

Vou-me diluindo
Desfazendo a matéria
Volatizando
Liquefazendo

Amanhã de manhã
Somos dois

Nos refazemos do caos e da dor

Matéria bruta

Em estado de completo êxtase.

















terça-feira, 19 de novembro de 2013

Fim

Acabou a poesia
Não passo pelo marco azul
Engoli o adeus
Todas as aspas

Sem tinta
Catártica

Mergulhada no êxtase da negativa

Nem toda a cumplicidade
Nem o querer inusitado
As noites não dormidas aos bons dias

O correr do tempo
O estalar da realidade

Nada disso
Foi o fim da poesia

Sem tinta
Ao léu

Palavras esparsadas
Desconexas
Reverberam insistentes

Dialogam entre si
Noutra língua que não a nossa
Outros papos que não os seus

Desencontro

Num lampejo qualquer

Ela volta com seus escritos.










quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Modinha

A nova onda é ser revolucionário, lutar por causas para além dos muros de casa. E todos batem no peito, reafirmam suas causas. Mas pelo que você luta? Quais são seus ideais? Até onde vai o seu espírito libertário?

A revolução termina quando você levanta a bunda da cadeira e desliga o wi-fi. Termina e começa com o levantar.

Suas posições são firmes, leu alguns livros de história é “engajado” político, discute sociologia, filosofia no buteco, ou de buteco, vai saber.

Os propósitos do outro? Ah! Sempre desmedidos, irracionais. Sua máxima maior: “Não somos obrigados!” E eu concordo, não somos obrigados a ter passos guiados, vontades direcionadas, a seguir caminhos outros que não os que traçamos. Não somos obrigados a nos manter no sistema.

Mas você não se mantém no sistema. Fizeram com que o engolisse, sem um gole d´água para ajudar a descer. E você engoliu, sem cara feia, tem engolido tudo que lhe vomitam por ai, um ou dois copos de cerveja as vezes ajudam. Não é mesmo?

Quanta ironia, falo de revolucionários. Não vejo rupturas, sequer vejo frestas, o discurso polido, a (des)orientação política, valem mais que a borra dos meus cafés, pois não paga a média simples do peão de obra, do operário da construção civil se bem quiserem, o cafezinho da tarde.

Sei de suas insatisfação, acho mesmo que decorei alguns dizeres. “Não somos obrigados!”. E ai? Depois da postagem impactante, da nota de jornal, da feitura de cartazes, dos gritos de ordem, das fotos no instagram. E ai? Cadê a revolução para além do discurso polido e das postagem em redes sociais?

As revoluções começam no café da manhã quando já se cansou da média simples, ela lhe dá asco e um belo dia conclui não ser obrigado a esse café, que merece mais e passa a tomar chá.

Parece mesmo engraçado, mas o chá trouxe mudanças no paladar, você agora sente outros gostos.

O moço do chá companheiro é um revolucionário. E você? E eu? Somos o que para além dos discursos?

E ai? Qual a mudança? O sistema é uma merda e você tem se atolado até o pescoço. Até quando? Sabemos que não é obrigado.

E ai? Até quando?


Aline Félix 
25/10/2013


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Catavento

Ela desliza entre hélices
Num giro suave de quem não sabe onde ir (?)

Ela foi se enveredando
Entre becos e vielas estreitas

De olhos fechados
Escolheu seguir

De olhos fechados
Soprou para leste

Dispensou os sentidos
Sem caminhos traçados ou fronteiras definidas

Bebeu do meu copo
Provou outros gostos
Mediu outros corpos

Ela desliza entre hélices
Leve, opulenta

Deixa marcas na areia

Ela também se desfaz...







domingo, 6 de outubro de 2013

Inacabado

Estagnada
As ideias vão se perdendo
Apagam-se

Faço de outrora
Ontem e hoje

E se fossem só lembranças?
O meu corpo ainda pulsa
Caminho em desalinho

Mudei de assunto
Apaguei versos ainda não escritos
Tenho rascunhado outros textos

Mas as ideias
O pesar
Todos os desejos

Não cabem nas gavetas
Nos armários da cozinha
Nas salas, nos quartos, nos sonetos mal escritos

Não cabem em mim

Assim, distraído
O corpo reescreve a partitura
Grita, reinventa

Torna latente o verso inacabado

E tudo reverbera em movimento

Tudo que não tevê fim...








terça-feira, 24 de setembro de 2013

Cadência



Desde o primeiro tropeço
Amanhece comigo
Aos poucos reescreve outros parágrafos
Dilapida meu riso
Acentua minha dor

Outrora eram só expectativas
Era vontade encapsulada
Desejo inadvertido

Invadindo meu corpo
Esgueiravam-se como se o medissem em palmos

Conjugava o prazer
Remontava cenários
Variava o figurino

A meia luz
Ato contínuo
Sem intervalos

Traçava os fins a caneta naquim

Falas e marcações

Mas o tropeço
Cadenciou o passo
Feriu de morte o verso

Fez de mim poesia

Sem começo e sem fim














quarta-feira, 18 de setembro de 2013

PORRE

Hoje eu bebi
Tomei o porre
Acordei entre quatro paredes não conhecidas
Bebi todo o meu querer
Perdi a conta do desejo
Da vontade da carne
Do gozo intermitente das noites vazias

Paguei a conta com o tempo
Tempo para pensar
Tempo para viver
Tempo para retirar-me
Tempo de deixar em paz os instintos

Lá pelas tantas
Sem fazer conta do porre
Sem fazer conta da dor

Fui diluindo-me noutras doses
Misturei essências

Outro porre

E nesse estado de embriaguez
De certezas inabaláveis
Fiz conta de nossas meias verdades

E de resto foi só frisson

Sem troco, sem saideira...





sábado, 7 de setembro de 2013

Ciclos

São outros tempos
O coração acelera como naquela tarde
Remonto cenas
Transcrevo outro roteiro
Retiro coadjuvantes
Somos eu e você

Somos nos reescrevendo histórias em apartado

São outros tempos
Faço versos no singular
Não conjugo outros verbos

São outros tempos
Você fala em boemia
Eu bebo incerteza
Você ponto final
Eu reticências
Você prosa
Eu verso

Déjà vu

São outros tempos

Para novos fins.





quinta-feira, 15 de agosto de 2013

In - cena

Sobra espaço
O desejo pulsa
Sublimo todas as manhãs vontades de anteontem

Sem querer ela ressurge altiva
Minuto a minuto
Toma cor
Ganha forma

Falta espaço
Ele sussurra nos ouvidos
O desejo intermitente
Teima em recostar-se
Faz morada nesse peito sitiado

Falta espaço
Nessa terra de ninguém

É vontade que aperta, afrouxa
Transmuta a dor
Esquece
Desalinha

Sobra espaço nos abraços

Falta espaço
Nessa terra de ninguém

Ah coração distraído
Decidiu-se sozinho
Sitiar meus domínios.









segunda-feira, 29 de julho de 2013

Instante

Foi no segundo vazio
Olhava de um lado para outro
Roía as unhas

Meus versos foram se esvaziando
Paraiva no ar a incompletude

Arrisquei o voo solo
Desenhei outras formas
Aprendi outras línguas

Preenchi o tempo
Tentei ocupar espaços entre ideias
Desdobrar pensamentos

E nada, nada tem sido suficiente

Eles me percorrem o corpo
Ocupam todas as frestas do inconsciente
Reviram-se comigo na cama

Travamos guerras sem precedentes
Eles me atiram certezas

Certeza do fim
Escarram verdades sem meias palavras
Gritam, esbravejam

Tic-tac

É tempo de deixar para trás
É tempo de deixá-los ir

Eles já não dormem contigo
Perturbam seu sono

É tempo de apaziguar
Sem recortes, sem remendos

É tempo de transmutar sentimentos
Sublimar a dor

Tempo de olhar para os lados.