Número de acessos

sábado, 22 de setembro de 2012

O corpo


Eu como a presença
Devoro o vazio dos dias
Entre um gozo e outro
Vou equilibrando os prazeres

O corpo não mente
Reluta, pondera, esquiva-se...

Sem razão de ser
Joga fora as patentes
Desalinha, perde a pose...

A certeza de outrora
Vou bebendo-a pela manhã
Pausadamente
Entre um gole e outro
O corpo não mente
Divaga

Entre o café e o jantar
Finge acreditar em verdades alacarte.




terça-feira, 28 de agosto de 2012

Reta

Linha perpassada
A coser sentimentos
Enlaçando, tecendo as bordas
Liame confuso de nossas certezas

De ponto a ponto
Damos voz ao indizível

Assim, cosendo a dor
Enlaçando as saudades
De ponto a ponto
Cosendo histórias
De uma ponta a outra
Reinventando cores e linhas.





28/08/2012



segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Animal Selvagem


Sem sentidos para nortear o tato
Confundo os gostos
Troco palavras
Reinvento assuntos outrora ultrapassados                 

Tem sido assim
Ficção talhada com esmero

Meus sentidos vão reverberando
Gritam aturdidos, perdidos...

Assim, a beira do precipício.
Guio-me pelo instinto

Animal selvagem
Indo e vindo, numa cadencia única.

Já não penso
Devora ideias
Liberto-me do conformismo da vida
Do dever ser
Sem a imposição da forma, de jeitos e trejeitos.

Assim, animal selvagem.
Desbravando essa terra de ninguém
Revolvendo destroços

Animal selvagem
Sem meios-termos
Solto no campo, jogado na vida.
Sem jaulas ou campos de concentração
Conheço em mim o pedaço de homem que faltava.

Aline Félix
28/08/2012

domingo, 17 de junho de 2012

Segredos azul anis


Para além das palavras
Segredos cor de anil
E se ecoa? São só versos
Revirando, dando forma ao indizível.

Arte abstrata
Diagrama imperfeito
Elas vão surgindo
Derramando-se
Miscelânea de sensações

A palavra derradeira?
Silêncio

O verso?
Esse teima em delatar-me

Mas não há verso, prosa ou poesia
Sensações ininteligíveis

O ápice da compreensão não tem forma
É o gozo das manhãs tardias
O desacelerar confuso das estações
É nascer e morrer numa só badalada.


quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sem amarras

Se crio, distorço, invento e escarro
Jogo fora as liras
Duas gramas de emoção
Esse coração polido, partido, rechaçado.

Vou embora para outros cantos
Nos arredores do Brasil
Lá, onde o eco não ecoa.
A voz não cala
Reverbera dissonante
Repica sem assombro
Livre, opulenta...
Sem disfarces, sem versos a emendar olhares.

Ela é livre
Livre para calar
Livre em desdizer, em contradizer.

Ela anota alguns tons
Desafina, mas não perde o compasso.
Ela é livre para amineirar-se como bem entende
E se não entende, deixe estar...

Ousadia demais é crer saber de tudo
Sabido mesmo é aquele que se acha ignorante
No fim, caladim no seu canto.
Sabe bem mais que imagina saber

06/06/2012

domingo, 3 de junho de 2012

A Lua


Da janela
Vozes, faíscas e pressentimentos.

A lua faceira
Sorri maliciosa
Recusa a dança
Faz gracejos, rodopia e dança sozinha.

Sem cerimônias faz lisonjas e se retira
Enigmática, emudece a plateia.
Consterna o casal indiferente
Desaparece, entre nuvens...

Meretriz da noite
Alcoviteira
Invade o quarto
Sem meios termos ou divagações
Resplandece
Toma de lance os segredos, o corpo, meus versos

Ah lua, feiticeira despudorada.
Toda noite acompanha meus passos
Desacelera, esconde a face...
Embebeda-me

Eu, passo os dias atordoado
Nostálgico, esperando para ciceronear-lhe mais essa vez.
Mais essa noite.


03/06/2012

*Fotografia: Ramon Freitas Santos



quinta-feira, 26 de abril de 2012

O Presente

Se arrancar-lhe as roupas
Sorver o cheiro do seu corpo
Ser tomado pela perplexidade
Dar lugar ao caos
Não ser dois, mas múltiplos...
Conjugar outros verbos que não a dor

Sua respiração
Repica no meu peito
Ofegante, se esvai...
Renascendo em segundos
Conjugando outros verbos
Desfazendo-se

Deleito-me nas curvas do seu pensamento
Recobro a cor, a fala, o verbo...
Sou a letra escarlate estampada peito

É ferrugem nos ossos
É dizer adeus engasgado
Lamentar o gozo das manhas
Incomodar-se em desdizer

Dor maior
É não ser só lembrança

25/04/12

domingo, 22 de abril de 2012

Impulso

“São tempos cruéis e pouco apaixonantes”. Achava que essa frase tinha saído de minha boca, mas na verdade ela veio como um sopro, e foi de longe.
Tanto aí como cá, as coisas andam meio que devagar, aos tropeços, quase parando.
Aquele mesmo discurso das ‘vidas diferentes’. Paradoxo. Quente. Frio. O falar apressado e o sotaque manso que quando eu lembro me faz pensar que nada é diferente tudo é do mesmo jeito, estilo bobo de um sonhador.
Toda vez que vejo o nome impulso, lembro-me de todos os meus impulsos guardados por dentro e consigo misturar os sentimentos que fazem desses engodos sentimentais serem tão fortes que saltam fora de mim mesmo não querendo.
Pra que entender, pra que querer definir, pra que pensar tanto se o que há de melhor é impulsionar a vida e sonhar o bastante para não deixar sair da boca, tempos cruéis e pouco apaixonantes...

REBECA AZEVEDO (Texto e Fotografia)

PS: Com licença poética da autora.
Das paragens do Nordeste do Brasil, palavras que me fazem calar!
Essa postagem é mais que merecida. 

sábado, 14 de abril de 2012

Fixação

  
Se verdade ou ficção?
Não sei
Eles se misturam
Homogêneos
Padecem do mal da linearidade
São constantes
Mal crônico
Amanhecem comigo
Atravessam o dia
Dividem a cama, os sonhos.
O soluçar confuso dos filmes românticos

Se verdade ou ficção?
Não sei

De olhos abertos racionalizo
Tenho sim juízo de valor ajustado
Julgo banal esse questionamento
É só o seu poder imagético
Déjà vu dos seus sonhos
Sem contradições
São pensamentos esgueirando-se por caminhos desconhecidos
Pensamentos
Pedaços de desejo
Pedaços do inconsciente em fuga

Se verdade ou ficção?

Nos fins de semana de ócio
Na correria, no marasmo, entre letras...
Eu não sei
Mas eles sempre se sentam a mesa
Comem do meu prato
Bebem meu desejo
Sempre se sentam a mesa

Se verdade ou ficção!?
Eu não sei...

Eles já são parte de mim

terça-feira, 10 de abril de 2012

Saudade

Saudades das revistas sem títulos
Dos livros sem capas
Daqueles dias de meio dia
Dias de compensações futuras
Da sinergia amplificada
Dos abafadores de ouvido invisíveis
Saudades da bicicleta verde
Dos carnavais nublados
Das tardes sem sol
Dos cigarros proibidos nos restaurantes
De olhar-te sem perceber
De perceber e cair pensando em você
De querer cair e não saber
Saudades de ter saudades depois de 30 minutos
Saudade instantânea
Saudade da falta de comedimento
Dos quês sem por quês
Dos quereres inusitados
Das discussões mentais
De acordar com despertadores alheios
De não acordar e sentir o tempo correr as cobertas
De fingir que não escuto para não sair do quarto
Do toque irritante do celular
Das cifras cantadas em tons desarmônicos
Dos alôs embriagados de saudades
Das liras tocadas em mim
É.... Saudades!

22/11/2007







sexta-feira, 6 de abril de 2012

Espera

*Guerra e Paz, Cândido Portinari 1952-1956

A gente espera... Esperamos na fila do banco, no aeroporto, o sinal vermelho, o troco no mercado, o ônibus para faculdade, esperar, esperar...
Esperamos impacientemente o próximo minuto. Sempre no compasso acelerado do tempo, no descompasso do artista.
Firmamos uma aliança com o tempo antes mesmo da concepção de nossas vidas. Fruto do planejamento, do desajuste, do sexo, da esperança. Mais um rebento no mundo.
Seus pais assistem seu crescimento, os primeiros passos, o balbuciar confuso, a ingenuidade tenra das crianças, seus primeiros conflitos, a descoberta das sensações, o mundo ao seu redor... Tempo, tempo, tempo.
Continuamos a esperar, criando utopias, vivenciando dramas cotidianos. Assim, construindo pontes imaginárias, rebelando-se diariamente contra si mesmo. Nesse compasso a vida aperta o peito e desafina. Cambaleante, força os pés, mantém-se. O amanhã para se levantar, para aceitar o acaso, para viver.
Seguimos assim, esperando o porvir, sem o qual os sonhos seriam ficção, a vontade somente pulsão vazia de sentido. Se for mesmo para esperar. Se viver exige paciência, construção, tempo, movimento. Que a espera acresça, crie, desvirtue os sentidos, desconstrua todas as proposições postas, seja viver a bonança da paz e o desajuste da guerra. Promovendo levantes diários.
Assim, vivendo.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Indigente

Nasceu assim
Sem nome, sem sexo...
Entre as ondas
Pelas palavras
Numa toada desajeitada de informações
Na tristeza, na dor, no riso
Em silêncio
Entre olhares

Nasceu assim
Entre escombros
Sorrateiro
Partilhando as tardes
Dividindo as noites
Uivando
Rugindo para os céus
Sem nome ou paradeiro acertado                                           

Malandro gaiato
Brincando de roda
Subindo ladeira

Nasceu na história
Tem vivido entremeios
Nas lacunas do pensamento
Nos intervalos de consciência
Sem roteiro ou razão de ser

Não se sabe se homem
Não se sabe se bicho
Nasceu assim

Pulsando sentidos

 04/03/2012